sábado, 28 de maio de 2011

Ambientação do Romance

No Romantismo as obras podem possuir três tipos de caráter de ambientação, o urbano onde a trama se desenvolve no espaço da cidade, o rural, onde a estória acontece no campo, ou o indianista, que foi uma peculiaridade do romantismo no Brasil, que não possuía cavalheiros medievais, e com isso foram substituídos pelo índio nacional, sendo assim a obra se passava no ambiente de floresta ou natureza nativa.
Na obra O seminarista, de Bernardo Guimarães, o ambiente da trama é predominantemente rural, ocorrendo a maior parte da narrativa numa fazenda, no interior, na época da província de Minas Gerais podendo ser isto visto no trecho:"..Um estreito caminho, partindo da porta da casa, cortava o vargedo e ia atravessar o capão e o córrego, por uma pontezinha de madeira, fechada do outro lado por uma tronqueira de varas. Junto à ponte, de um lado e outro do caminho, viam-se duas corpulentas paineiras, cujos galhos, entrelaçando-se no ar, formavam uma arcada de verdura, à entrada do campo onde pastava o gado...”
Mas a obra não se passa somente no espaço rural, quando o personagem vai pra o seminário, a estória se desenvolve curtamente num ambiente urbano de uma pequena cidade mineira, fazendo um contraste entre os espaços, ou seja, mesmo passando na cidade essa parte da trama ainda possui elementos campestres, podendo ser observado no trecho: “... O seminário, que nada tem de muito notável, é um grande edifício de sobrado, cuja frente se atravessa a pouca distância por detrás da igreja, tendo nos fundos mais um extenso lance, um pátio e uma vasta quinta. Das janelas do edifício se descortina o arraial, e a vista se derrama por um não muito largo, porém formoso horizonte..."
Nesse seminário, ao contrário da fazenda onde tinham uma vida feliz, temos um lugar deprimente, onde o personagem principal passa por profundas tristezas, como podemos ver em: ”... Eis o nosso herói transportado das livres e risonhas campinas da fazenda paterna para a monótona e austera prisão de um seminário no arraial de Congonhas do Campo...”
Também pode ser notada a grande influência do espaço nas ações dos personagens, onde o seminário, por ser um lugar rígido e obscuro, fazia com que Eugênio se comportasse de forma quieta e obediente, apesar de não ser sua vontade, vemos isto em: ”... Firme nesse propósito chegou a Congonhas, mas apenas cruzou os umbrais do piedoso edifício, sentiu desfalecer toda a sua energia reacionária, sua fronte altanada curvou-se a um profundo sentimento de respeito e submissão; todas essas veleidades de revolta se encolheram nos seios da alma, como se calam medrosos escondendo-se nas moitas do vergel os gárrulos passarinhos, quando percebem a sombra da asa do gavião, que atravessa os ares esvoaçando por cima deles...”
Já no campo podemos perceber nosso personagem feliz ao lado de sua amada e até interagindo com a natureza, neste trecho percebe se isto: ”... “Eugênio reparou para o tronco das duas paineiras e viu neles entalhados em um a letra E, e no outro a letra M.
-Eugênio e margarida! Exclamou ele. Aposto que é isto que querem dizer estas letras.
- É isso mesmo adivinhou. Fui eu quem fiz estas letras aí com a ponta de um canivete. Esta árvore sou eu, e essa lá é você. “Nós também havemos de viver juntos como estas duas árvores...”.
Com tudo que foi dito verificamos a fundamental importância da percepção do espaço para o profundo conhecimento da obra e assim melhor entendimento desta.

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